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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Luz LED de cor azul. Prêmio Nobel de Física 2014.

Luzes do novo século

Invenção da luz LED de cor azul, que abriu caminho para uma revolução na iluminação, com o desenvolvimento de alternativas mais econômicas, sustentáveis e eficientes, recebe o prêmio Nobel de Física de 2014.
Por: Marcelo Garcia
Publicado em 07/10/2014 | Atualizado em 08/10/2014
Luzes do novo século
O LED branco, cuja criação se tornou possível devido à tecnologia laureada com o Nobel de Física de 2014, pode representar nos próximos anos a maior revolução na iluminação desde a invenção da lâmpada elétrica. (foto: Flickr/ zonedancer – CC BY-ND 2.0)
Um pouquinho do prêmio Nobel de Física deste ano está na sua casa. E na minha. E na de todas as pessoas com qualquer equipamento tecnológico moderno. Isso porque os laureados, os japoneses Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura (este último naturalizado norte-americano), receberam o prêmio pela invenção de “uma nova fonte de luz eficiente e sustentável, o diodo LED de luz azul”, passo fundamental para a criação do LED branco e de alternativas de iluminação mais modernas, econômicas e potentes para o próximo século.
Não é sempre que a premiação consagra algo tão palpável e próximo de nosso dia a dia – que dirá o inefável bóson de Higgs, cuja concepção foi laureada em 2013, por exemplo. Até o perfil de Nakamura é atípico para um prêmio quase sempre concedido a acadêmicos: ele trabalhava na pequena companhia Nichia Chemicals na época da invenção, enquanto Akasaki e Amano estavam na Universidade de Nagoia (Japão). Em 2006, a revista Ciência Hoje entrevistou Nakamura, que falou sobre seu trabalho e sobre suas expectativas a respeito dos possíveis usos do LED no futuro. 
Laureados com Nobel de Física de 2014
Isamu Akasaki, da Universidade de Meijo e de Nagoia (Japão), Hiroshi Amano, também da Universidade de Nagoia, e Shuji Nakamura, da Universidade da Califórnia (Estados Unidos), foram laureados pela invenção do LED azul, no iníciodos anos 1990. (fotos: Universidade de Meijo e Randy Lamb/UCSB; ilustração: Nobel Media 2014)
Seja como for, a edição deste ano tem aplicações muito diretas no nosso mundomoderno e, provavelmente, terá importância crescente nos próximos anos. Segundo o comitê responsável pelo prêmio, o diodo LED marcará o século 21 e reflete o ‘espírito de Alfred Nobel’ de fazer invenções que geram grande benefício à humanidade.
Para o engenheiro Henrique Antônio Carvalho Braga, da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, a premiação da invenção do LED de luz azul poderia ser comparada, pela guinada que promoveu nessa área da tecnologia, a láureas concedidas a inventos como o transistor, que promoveram grandes mudanças de paradigmas. “A descoberta é o marco inicial de uma revolução, pois foi fundamental para a criação do LED de luz branca, necessário para aplicações de iluminação em geral”, avalia.    

Do azul para o branco

O funcionamento da tecnologia LED (sigla em inglês para Light Emitter Diode) se baseia no fenômeno da eletroluminescência, ou seja, a emissão de luz pela passagem de corrente elétrica por um material semicondutor. O LED funciona de forma bem diferente das lâmpadas tradicionais, que utilizam filamentos metálicos aquecidos, descargas de gases e outros expedientes para produzir luz.
As luzes LED têm uma série de vantagens em relação às fontes tradicionais – em especial, uma vida útil muito maior e grande eficiência
Sua história remonta à década de 1960, quando o primeiro LED foi inventado – na cor vermelha e ainda com baixa intensidade luminosa. Nas décadas seguintes, surgiram outras cores, como verde e amarelo, mas só o trabalho dos laureados utilizando nitrito de gálio como semicondutor, no início da década de 1990, permitiu a criação de luzes LED com comprimentos de onda menores, como o azul, ‘fechando’ o espectro luminoso.
“A partir daí, a tecnologia pôde ser utilizada para produzir luz branca, pela mistura de azul, vermelho e verde ou pela utilização apenas do LED azul em lâmpadas revestidas com fósforo, que decompõe parte do azul em cores de maior comprimento de onda (vermelho e verde) e cria o branco a partir da sua mistura”, explica Braga.
As luzes LED têm uma série de vantagens em relação às fontes tradicionais – em especial, uma vida útil muito maior e grande eficiência em relação à quantidade de luz emitida por energia consumida. De forma geral, elas podem durar até 100 mil horas, contra apenas mil das lâmpadas incandescentes e 10 mil das fluorescentes. Hoje, suas aplicações vão da iluminação dos visores de cristal líquido de smartphones e TVs a faróis de carros. O LED branco vem sendo muito estudado como alternativa para iluminação pública, inclusive no Brasil, por sua alta luminosidade e consumo reduzido.
Iluminação pública
Uma das áreas em que a utilização de luzes LED já vem sendo estudada é a iluminação pública. Mais econômicas, brilhantes e duráveis, elas ainda podem impactar muito a redução do consumo de energia em todo o mundo. (foto: Vitorio Benedetti/ Flickr – CC BY-ND 2.0)
Como destacou o comitê do Nobel, uma vez que um quarto do consumo de energia domundo está relacionado à iluminação, a tecnologia pode contribuir muito para preservar os nossos recursos naturais. “O impacto da adoção dessas luzes pode ser enorme, com a redução do consumo de energia e da emissão de gases de efeito estufa”, avalia o engenheiro Marco Antônio Dalla Costa, da Universidade Federal de Santa Maria (RS).
O LED ainda tem outras vantagens ecológicas: ao contrário das lâmpadas fluorescentes, não possui mercúrio ou qualquer elemento que possa causar dano à natureza. Além disso, pode ser alimentado facilmente com energia solar, o que permite melhorar a qualidade de vida de 1,5 bilhão de pessoas que não têm acesso à energia elétrica.

Gargalos e perspectivas

Além de suas muitas vantagens, a tecnologia LED tem trunfos adicionais: está em evolução acelerada e tem um grande potencial ainda inexplorado. “Hoje, há lâmpadas que produzem cerca de 150 lúmens [unidade de intensidade luminosa] por watt, o que já é mais eficaz do que qualquer outra existente, mas acredita-se que podemos chegar a 200 ou 300 lúmens por watt”, destaca Costa.
O desperdício envolvido na iluminação também pode diminuir. “A tecnologia LED não produz luz ultravioleta, como a incandescente, nem envolve aquecimento intenso, então pode ser possível aproveitar próximo de 100% da energia total”, analisa Costa. “Hoje, no entanto, a eficiência ainda é bem menor, pois há perda de energia na forma de calor, o que pode ser aprimorado com a melhora do semicondutor empregado no processo.”
Para concretizar o grande potencial da tecnologia LED, é preciso resolver gargalos técnicos que ainda dificultam sua exploração comercial – em especial equacionar custo e confiabilidade
Para concretizar o grande potencial da tecnologia LED, Braga lembra que é preciso resolver gargalos técnicos que ainda dificultam sua exploração comercial – em especial equacionar custo e confiabilidade. As lâmpadas incandescentes (que vêm pouco a pouco sendo proibidas no mercado por sua baixa eficiência energética, inclusive no Brasil) custam cerca de 2 reais, enquanto uma luz LED pode custar de 40 a 80 reais. “Talvez o apelo ecológico possa ajudar a superar a barreira inicial do preço, mas é preciso garantir a durabilidade dos produtos para que haja economia de fato”, avalia Braga.
Nesse sentido, Costa ressalta a necessidade de aprimorar também componentes dosistema – assim como a luz fluorescente precisa de um reator para dar início ao processo de geração luminosa, o LED depende de componentes eletrônicos. “Com lâmpadas que duram 10 mil, 20 mil horas, isso não era um problema, mas com fontes LED que podem chegar a mais de 50 mil horas, é possível que elas tenham uma vida maior do que o componente eletrônico associado, o que não pode acontecer”, pondera.
Além disso, o LED ilumina de forma muito mais pontual, diferente das lâmpadas usadas atualmente, o que é ruim para fins de iluminação em geral. “Por isso, é preciso um trabalho intenso de engenharia e de ótica, com o estudo de melhores arranjos geométricos das fontes luminosas e o uso de lentes específicas para reproduzir efeito similar ao das lâmpadas comuns”, diz Braga. Seja como for, a laureada invenção doLED de cor azul parece ter sido mesmo o estopim de uma revolução na iluminação dopróximo século – e ter garantido à humanidade um futuro mais brilhante pela frente.

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line

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